terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

PAULINHO MOTORISTA GASTOU APENAS R$3.000,00 NA CAMPANHA PARA SE ELEGER VEREADOR

                                                        Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS


Há candidatos que ficaram roucos de tanto discursar, gastaram os tubos espalhando cavaletes pelas ruas, contrataram pelotões de cabos eleitorais e se utilizaram até de propaganda voadora para capturar votos. 

Paulo Sérgio Alves dos Santos, o Paulinho Motorista, 49 anos, chegou à Câmara de Vereadores de Porto Alegre com uma estratégia tão modesta como eficaz: a gentileza.
 
Paulinho tornou-se candidato, obtendo 3.311 votos pelo PSB, meio sem querer. Quando percebeu, estava formada o que define como "bola de neve" de apoiadores voluntários. A cada passageiro que subia no ônibus da linha Belém Novo, na zona sul de Porto Alegre, esmerava-se na cordialidade para tornar a viagem mais agradável. Se fosse homem, saudava:

— Bom dia! Como está, meu irmão?

Caso fosse uma mulher a entrar no coletivo, dispensava tratamento mais respeitoso:

— Boa tarde! Como vai a senhora, tudo bem?

E foi assim, ao longo de 24 anos nos ônibus das linhas Belém Novo, Lami e Vila Nova, transportando milhares de pessoas, que Paulinho consolidou a imagem de um condutor simpático e prestativo. Até que, no ano passado, surgiu a ideia de concorrer a vereador. E o que era apenas cogitação, um mero desejo, decolou fora de controle. Os próprios passageiros se encarregaram de convencê-lo.

Os usuários da Viação Belém Novo, além das trocas de gentilezas, passaram a pedir o "santinho". Paulinho ainda não tinha, nem sabia que lhe caberia o número 40.012 do PSB. Tanto insistiram que ele decidiu se lançar em campanha. Após encerrar o trabalho, partiu para o corpo a corpo.

Bíblia na cabina para garantir proteção contra acidentes

Paulinho tem hábitos simples. Adora à la minuta no almoço, com arroz, batatinha frita e um ou dois ovos fritos sobre o bife. Solteiro, com namorada, é filho da dona Santa Alves dos Santos, 76 anos, e mora no bairro Belém Novo. Concluiu o Ensino Médio e gosta de jogar futebol com os amigos, de atacante, farejando o gol.

Nas últimas semanas, a rotina foi substituída pelo lufa-lufa da campanha. Colegas da empresa de ônibus ajudaram, mas Paulinho teve apenas um cabo eleitoral, o primo e pintor autônomo Sérgio Fagundes, 50 anos. Calcula que distribuíram aproximadamente 20 mil santinhos.

A campanha foi franciscana. Paulinho não anotou as despesas na ponta do lápis, mas estima que tenha gasto em torno de R$ 3 mil. A maior parte foi enchendo o tanque de gasolina do velho Monza, ano 1994, para circular pelas ruas. Mas o que ele mais apreciava era caminhar, conversar.

Evangélico, ele carrega uma Bíblia na cabina do ônibus, como proteção para evitar acidentes e não deixar que o estresse lhe arruine o humor. Quando o dia "está pesado", lê um versículo. Mas descobriu que políticos também estão expostos a perigos. Sempre que deixava uma propaganda na caixa postal das casas, tinha de ser rápido para evitar mandíbulas ferozes.

— Um monte de cachorro tentou me morder — conta.

O pior aconteceu durante as caminhadas. Gastou o sapato, mas tanto que o solado afinou e foi perfurado por um prego enferrujado, que lhe feriu o pé direito. Precisou tomar vacina antitetânica.

— Fiz uma campanha simples, humilde, de boca a boca — diz Paulinho.

A cordialidade não deve ser abandonada, mas o vereador promete ser intransigente ao buscar melhorias para a saúde. Quer dedicar parte do mandato aos postos de saúde. Não apenas em benefício dos pacientes, que precisam madrugar para agendar uma consulta, mas também em favor dos servidores. Como exímio motorista, Paulinho olha para todos os lados, do para-brisa ao retrovisor.

— A situação é difícil. O pessoal que trabalha em postinho batalha bastante, mas falta estrutura — observa.

Filiação em um feriado

Uma sucessão de acasos conduziu Paulo Sérgio Alves dos Santos ao parlamento municipal. A começar pela sua filiação ao PSB. Ele procurou a sede do partido num feriado, quando estava fechada, mas teve sorte ao ser percebido no lado de fora por dirigentes que estavam em reunião interna.

Foi Elisandro Oliveira, presidente do PSB na Capital, quem abonou-lhe a filiação.

— Notei que tem carisma, é muito querido pelas pessoas — lembra.

No domingo, transcorrida meia hora de apuração, Oliveira telefonou para cumprimentar Paulinho pelos 900 votos contabilizados até aquele momento. Achou que a votação se esgotara, que todos os sufrágios da zona dele haviam sido contados.

Ao final, foram 3,3 mil e a garantia de eleição.
 
Nilson Mariano -  nilson.mariano@zerohora.com.br
 
Fonte: www.zerohora.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário